Guns promete garra e resistência no Serra Dourada | Diário da Manhã

2022-09-17 01:40:55 By : Mr. Allen chen

Banda californiana promete trazer garra a Goiânia neste final de semana. Expectativa é que Axl Rose, Slash e Duff toquem clássicos dos discos ‘Appetite por Destruição’, ‘Use Your Illusion’ e ‘Use Your Ilusion II’

Marcus Vinícius Beck 10 de setembro de 2022 11:54 | Atualizado há 4 dias

Axl Rose não está fracassado, Slash passeia pelo braço da Les Paul com virtuosidade e Duff McKagan cuida da cozinha na qual o guitarrista se delicia nos solos. De uma vez por todas, que fique bem claro: Guns é Guns. Embora carreguem o peso dos 60 anos, os três músicos da clássica formação sabem o que fazer ao subirem no palco. E só o fato de vê-los neste domingo, 11, no Serra Dourada já é motivo para o público goianiense aumentar o volume no último, curtindo cada riff, cada tentativa de Axl alcançar seus agudos da sétima nota e cada groove de Duff. 

Três horas de show não é para qualquer um. Ao longo dessa jornada, Axl pode até tossir entre os versos, mas não desiste: anda pra lá e pra cá, sente pelo rosto o suor escorrer e se recompõe. No Rock In Rio, onde o Guns tocou – na garra – na madrugada de sexta, o vocalista exibiu uma pequena pança, camiseta com estampa escandalosa, cabelo rareando, calça jeans rasgada e sapato bico fino. Mas quem brilhou mesmo no festival carioca foi Saul “Slash” Hudson, um instrumentista que domina como poucos a arte de fazer solos arrastados e cantáveis, alguns dos quais nostálgicos. 

Fã de Joe Perry e Keith Richards, Slash “ressuscitou” a guitarra, esquecida pela turma da new wave, como New Order e Depeche Mode, no início dos anos 80. Seu estilo lembra Jimmy Page, lenda do Led Zeppelin – imortal mago dos riffs. A estética é “decadente”, porra-louca. O vocal cortante de William “Axl Rose” Bailey e as frases do cara da cartola tornaram o Guns um fenômeno assim que lançaram “Appetite For Destruction” (1987), álbum de estreia que mais vendeu na história, com 30 milhões de exemplares.

A essa altura, meados dos anos 1980, o som lisérgico dos The Doors havia dado lugar ao rock regado à cocaína, em Los Angeles. Na década de 70, acumulavam-se relatos do Led Zeppelin alugando hotéis inteiros para tocar o terror e os Rolling Stones atirando televisores pelas janelas dos quartos. Eram shows imprevisíveis, como uma fagulha que se aproxima do fogo, e groupies seguiam seus artistas favoritos de um lado ao outro. Havia o espírito do Kiss, com seu rock ´n´ roll à noite inteira, ou do Queen e os perdedores que se encontravam, diria letra do baterista Roger Taylor.

O Guns não tinha medo de parecer insolente: ‘queremos resgatar o espírito rebelde do rock, porra!’ Até meados da década de 80, Axl, Slash e Adler precisaram aceitar na Sunset Strip, em L.A, coisas como Motley Crue, Ratt e Poison ganhando discos e mais discos de platina, mesclando uma versão esquisita do glam rock à la David Bowie, à moda dos anos 70, cheios de elementos pop e uma queda de mau comportamento ao estilo do Zeppelin.

Em 1986, sem gravar clipe, nem ter feito nenhuma apresentação em estádio e com falta de grana, a banda já era capaz de afrontar qualquer norma de boa conduta: estavam mergulhados nas drogas, bebiam além da conta e praticavam delitos contra propriedades privadas. Na alma do Guns, é preciso dizer que existem dois amigos de infância, Adler e Slash, que abandonaram a escola, ao mesmo tempo em que Stradlin e Axl armavam o diabo a quatro na pacata Lafayette, em Indiana, nos Estados Unidos. Duff era um rapaz esperto de Seattle, já íntimo do punk – conhecera Joe Strummer, coração do The Clash, outro clássico da música. 

Por muito tempo, um topava o outro na cena roqueira de Hollywood. Segundo o jornalista Brian Hiatt, da revista Rolling Stone, Slash e Adler tocaram com McKagan num grupo chamado Road Crew e também passaram por Hollywood Rose, banda de Axl Rose, cujo primeiro nome adorou quando lhe disseram que fazia alusão à prática de sexo oral. Entre idas e vindas, a formação lendária do Guns se reuniu para o primeiro ensaio em um estúdio em Silverlake, na Califórnia. Aí, você sabe, soou o primeiro acorde, um olhou para outro e pensaram ‘a magia está feita’. Foi essa formação que entrou no estúdio para gravar “Appetite For Destruction”. 

Slash criou o riff de “Welcome To The Jungle” no porão da casa de sua mãe – promessa de que vai estar no setlist do show em Goiânia, se levar em consideração o do Rock In Rio, três dias antes. E veio, como se sabe, não necessariamente nesta sequência músicas que diferentes gerações conhecem de trás pra frente: “It´s So Easy”, “Nightrain”, “Out Ta Get Me”, “Mr. Brownstone”, “Paradise City”, “My Michelle”, “Think About You”, “Sweet Child O´ Mine”, “You’re Crazy” e “Anything Goes”. E, por último, a pornográfica “Rocket Queen”. Podem estar no repertório que vão tocar na Capital

Faixa a faixa, “Appetite For Destruction” é um disco que ficará para sempre, seja como música de fundo da vida ou sabe-se lá o quê – semelhante ao carinho que os fãs, por exemplo, têm com obras-primas como “The Dark Side Of The Moon”, do Pink Floyd, ou “Sticky Fingers”, dos Stones, ou “Rocks”, do Aerosmith, ou “Led Zeppelin IV”, do Zeppelin.

Você está certo, Slash: fizeram um disco desses, como falou à revista Rolling Stone, na ocasião em que “Appetite” completou 20 anos, em 2007. “Não posso desejar mais do que isso. Fico todo arrepiado. Isso é uma coisa que ninguém nunca vai tirar de mim”, contou o guitarrista à Rolling Stone.

Quatro anos depois de “Appetite”, já com “G´N´R Lies” (1988), “Use Your Illusion” (1991) e “Use Your Ilusion II” (1991) na discografia, o Guns fez um dos melhores shows carreira, no Rock In Rio. Mesmo viciado em heroína e com Axl imprevisível, a apresentação entrou para a história, com os californianos desconfortáveis com o status de “superbanda” e, além de tudo, estreando uma nova formação. A apresentação entrou para o folclore do festival, mas nada que se compare com o atraso de 2h40, em 2011. 

Roberto Medina, criador do Rock In Rio, declarou que o Guns nunca voltaria a se apresentar no festival. Nada disso chegou a acontecer, é verdade. Só serviu, quando muito, para reforçar as lendas em torno de um dos maiores grupos de rock da história. Porque, no palco, Slash, Axl e Duff sabem o que precisa ser feito. Não é um clamor para que o vocalista se aposente pelo fato de sua voz não dar mais conta que fará o grupo ser rebaixado ou esquecido: em tempos de hair metal, o Guns uniu rock clássico, estética punk e heavy metal. E virou o que virou. O show em Goiânia será inesquecível.

Três vezes em que Axl perdeu o controle

Em dezembro de 92, véspera de show que faria em São Paulo, ele ficou puto com a presença de jornalistas e fotógrafos que estavam no hotel. Resultado: o cara jogou uma cadeira no sentido dos profissionais. O objeto quase feriu um jornalista da Folha de S. Paulo. 

É melhor não fotografá-lo. Em 91, num show em St. Louis, nos EUA, ele foi até a plateia para pegar a máquina do sujeito que lhe fotografava. Detalhe: a banda continuava a tocar. Depois da confusão, não tinha mais clima nenhum para show. O concerto foi encerrado.

Até com Kurt Cobain tretou – e fio. Os dois se encontraram nos bastidores do VMA, da MTV, e discutiram. O vocalista do Guns estava furioso porque Kurt não aceitou sair em turnê com a banda de Axl Rose e o Metallica. Enfurecido, passou a xingar Courtney de vagabunda. 

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